3. Carreira Política

Os primeiros passos de Roberto Glasser na esfera política, deu-se através da campanha Civilista de 1910, na qual contribuiu, com intenso e fervoroso trabalho, em prol da candidatura de um presidente civil (Dr. Ruy Barbosa), contra a candidatura de um presidente militar (marechal Hermes da Fonseca) formando, no Paraná, o primeiro núcleo de resistência a candidatura ‘marechalista’. A campanha se pôs a favor do candidato à presidência da república que se manifestasse francamente favorável aos interesses do Paraná na questão da disputa dos limites entre Paraná e Santa Catarina cujo o pleito territorial havia sido julgado pelo Supremo Tribunal Federal em favor de Santa Catarina (A REPUBLICA, ed. 39, 1910).

 

Em 1914, aos 36 anos, entrou, oficialmente, para a vida política quando participou, pessoalmente, da formação dos diretórios regionais do Partido Liberal Republicano (PLR) em vários munícipios paranaenses (Ponta Grossa, Palmeira, Paranaguá, Castro, Tibagi, Guarapuava, Morretes, Campo Largo, Curitiba, Piraí, Bocaiuva do Sul, Entre Rios, União da Vitória, Imbituva, Jacarezinho, Rio Branco, São José da Boa Vista, Araucária, Colombo, Campina Grande, Piraquara, etc.). Ingressou na vida política brasileira nas primeiras décadas do século XX (considerada as décadas da melhor e mais brilhante safra de homens públicos da história do Brasil Republicano).

 

A presença do Senador Roberto Glasser foi notória em quase todas as manifestações populares que ocorreram em Curitiba no período de 1904 a 1912. O contato direto com a população permitiu que Roberto Glasser levasse as urnas do Paraná um elevado e valioso contingente eleitoral (O DIA, ed. 10299, 11 abr. 1956). Foi eleito Deputado Estadual pelo PLR no biênio de 1914-15 pela chapa da oposição

 

Em 1930, saiu candidato a deputado estadual pela Aliança Liberal, mas não foi eleito. Participou da preparação do movimento revolucionário que irrompeu em outubro sob a liderança da Aliança Liberal. A vitória da Revolução de 1930 provocou a dissolução dos órgãos legislativos em todo o país.7

 

Com a reorganização partidária que antecedeu as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, em maio de 1933, participou da fundação e foi membro da comissão executiva do Partido Liberal Paranaense (PLP), que se opunha a Manoel Ribas, interventor no estado a partir de 1932, e ao Partido Social Democrático (PSD) do Paraná. Disputou uma cadeira na Constituinte pela legenda do PLP quando foi eleito 1º Suplente de Deputado Federal. 7

 

Exerceu, em seguida, o cargo de presidente do Partido Social Nacionalista (PSN) (DIARIO da TARDE, ed. 11986, 1935) sendo eleito, pela segunda vez, 1º Suplente de Deputado Federal nas eleições de outubro de 1934 (DIARIO da TARDE, ed. 11879 e ed. 11897, 1934).

 

O Senador Roberto Glasser tinha relação de amizade e convívio social com o interventor Manoel Ribas, uma vez que ambos eram filhos dos pampas gaúcho e adeptos da quase inevitável roda de chimarrão (CORREIO do PARANÁ, ed. 125, 13 out. 1932). Na década de 30 foi, inúmeras vezes, sondado pela alta cúpula da administração pública no Paraná e convidado a ocupar a pasta da Secretaria de Obras Públicas e Agricultura ou a pasta da Secretaria da Fazenda. Sofreu pressões por parte de políticos e da imprensa local para que assumisse uma das pastas (O DIA, ed. 3847, 21 jan. 1936). Porém, o partido PSN era uma agremiação de oposição ao governo. Sua adesão ao cargo de Secretário da Agricultura ou Secretário da Fazenda iria isolá-lo do comando do partido. Roberto Glasser era um homem de princípios. Condenava a prática da troca de cargos e proventos para garantir apoio ou adesão ao poder público. Não poderia trair seu passado político de temperamento combativo ao lado do povo e ao poderoso traço de sua personalidade: a paixão visceral pelos valores democráticos. Foi, portanto, esta a razão pela qual resolveu não assumir a vacância dos relevantes cargos públicos.  Permaneceu no PSN até 1937. A partir de 1937 passou a engrossar as fileiras do PND, desta vez, ao lado do velho e conhecido Manoel Ribas (desfecho perfeito para a história de uma amizade que sobreviveu a rupturas dramáticas) que assumiu a presidência do partido (GAZETA do POVO, 5 jan. 1932; DIARIO da TARDE, ed. 12321, 20 jan. 1936; O CORREIO do PARANÁ, 19 jan. 1936; GAZETA do POVO, 17 jan. 1936; O DIA, 01 out. 1936; DIARIO da TARDE, 18 jan. 1936; DIARIO da TARDE, 25 mar. 1936; O ESTADO, ed. 10, 11 out. 1936; DIARIO da TARDE, ed. 12647, 30 abr. 1937; O ESTADO, ed. 253 e 307, 18 jul. e 10 set. 1937).

“O Sr. Roberto Glasser, convidado para um alto posto do novo governo paranaense soube encontrar uma desculpa honesta para recusar e ficar solidário com os seus companheiros de partido” (GAZETA do POVO, 5 fev. 1932)

 

“Afirmo não terem fundamentos as noticias propaladas por dois órgãos de publicidade desta capital relativamente á minha interferência em matéria politica, referente a situação dominante no Estado. Roberto Glasser” (GAZETA do POVO, 17 ago. 1935).

Em julho de 1932, foi nomeado para o Conselho Consultivo do Estado (durante o governo provisório de Getúlio Vargas) onde permaneceu até janeiro de 1933 (DAGOSTIM, 2011, p. 157; O DIA, ed. 2638, 19 ago. 1932; CORREIO do PARANÁ, ed. 150, 11 nov. e ed. 18628, dez. 1932; CORREIO do PARANÁ, ed. 193, 04 jan. 1933).

 

Em 1933 fez parte da LIGA PRO-ESTADO LEIGO (laico), criada com o objetivo de evitar que uma religião viesse a se tornar a religião oficial da futura Magna Carta política do Brasil, assegurando, assim, a mesma liberdade à todas as religiões perante o Estado brasileiro prevalecendo o princípio fundamental da sociedade democrática de direito: “a consciência livre, o Estado livre, a igreja livre” (O DIA, ed. 2850, 29 abr. 1933; DIARIO da TARDE, ed. 11457, 02 mai. 1933; CORREIO da TARDE, ed. 697, 21 set. 1934).

 

Em 1939 (dois anos após o golpe de estado de 1937 ter encerrado as atividades dos partidos políticos no Brasil), foi nomeado, através de Decreto Lei assinado por Getúlio Vargas, vice-presidente do Departamento Administrativo do Estado do Paraná – DAE PR (extinto Congresso do Estado) – (O DIA, 01 jun. 1939; GAZETA do POVO, 01 jun. 1939; O DIA, ed. 4916, 09 ago. 1939). Assumiu a presidência do Departamento com o pedido de exoneração do presidente Dr. Caetano Munhoz da Rocha em julho de 1940, permanecendo no cargo até a deposição de Getúlio Vargas em 1945 (DAGOSTIM, 2011, p. 158; DIARIO dos CAMPOS, 20 ago. 1939; O DIA, ed. 5199, 12 jun. 1940; CORREIO do PARANÁ, ed. 3908, 1940).

Decreto Lei Assinado por Getúlio Vargas nomeando Roberto Glasser para o Conselho Consultivo do Estado do Paraná (1932) e para o Departamento Administrativo do Estado do Paraná (1939).
Decreto Lei Assinado por Getúlio Vargas nomeando Roberto Glasser para o Conselho Consultivo do Estado do Paraná (1932) e para o Departamento Administrativo do Estado do Paraná (1939).

Com a queda do Estado Novo (1937-1945) e a redemocratização do país, elegeu-se, em dezembro de 1945, senador pelo Paraná à Assembleia Nacional Constituinte na legenda do novo PSD. Assumindo o mandato em fevereiro de 1946, destacou-se durante os trabalhos constituintes por sua atitude rebelde, com o voto de repúdio à Carta de 1937 (considerada fascista), contrariando assim a opinião de seu partido e aproximando-se do ponto de vista do partido adversário, a União Democrática Nacional (UDN). Com a promulgação da nova Constituição, em 18 de setembro de 1946, passou a exercer o mandato ordinário, sendo designado primeiro suplente da Comissão Diretora e membro da Comissão de Saúde do Senado. Terminou o mandato em 1955. Nome forte para assumir o governo do Estado do Paraná, seu voto pela revogação da Carta de 1937 acabou prejudicando suas possíveis pretensões para candidatar-se ao cargo de governador7 (A TRIBUNA POPULAR, 19 set. 1946; DIARIO do PARANÁ, 17 mai. 1946).

7 GLASSER, ROBERTO. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/GLASSER,%20Roberto.pdf>. Acesso em: 5 de janeiro de 2018.