2. Roberto Glasser

O sobrenome GLASSER tem origem anglo-saxônica e possui um significado metonímico ocupacional utilzado para identificar artesões que trabalhavam com o manuseio do vidro durante a Idade Média (vidraceiro, soprador de vidros, etc.). GLASSER tem formação etimológica na palavra “glaes” (vidro), assemlhando-se a “glaed” (brilhando) refirindo-se ao brilho de um material. Algumas derivações da grafia GLASSER se espalharam pelo mundo sob formas de escrita semelhantes: GLASE, GLASER, GLASS, GLAZE e GLAIZE.2

 

Roberto Glasser nasceu em 12 de maio de 1878 na vila de Canguçu, estado do Rio Grande do Sul. Filho do Major Abraão Glasser e Ismenia Rocha Coitinho Glasser mudou-se com os pais para Curitiba, em 1886, quando tinha apenas oito anos. Entre fevereiro de 1893 e agosto de 1895, participou da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, ao lado dos maragatos, sendo compelido a exilar-se na Argentina, aos 18 anos, quando o acordo ‘Paz de Pelotas’ foi assinado pelo Presidente Prudente de Morais pacificando e anistiando todos envolvidos na revolução3 (O DIA, ed. 9746, 21 dez. 1954). Na sequência, foi nomeado oficial da Guarda Nacional4 pelo próprio Prudente de Morais, chegando ao posto de coronel no período em que atuou como oficial de 1ª linha na vida militar5 (DIARIO DA TARDE, 04 mai. 1917).

 

O pai, Major Abraão Glasser (natural de Santo Amaro, São Paulo) viveu no Paraná por 36 anos onde dedicou a maior parte da sua vida à indústria e ao comércio (vendia couros, cordas, arreios e pelegos no estabelecimento comercial Casa Rio-Grandense localizado na Rua 15 de Novembro em Curitiba mais tarde com a patente comercial Glasser & Filho na Avenida Luiz Xavier – também alugava galpões e armazéns) – (ALMANACH do PARANÁ: Commercio, História e Literatura, ed. 2, 1899 e A REPUBLICA, ed. 307, 30 dez. 1910). O Major Abraão Glasser (sd-1919) tomou parte na guerra do Uruguai (1864-1865), alistando-se no 28º Corpo Temporário de Cavalaria da Guarda Nacional (COMMERCIO do PARANÁ, 04 jan. 1919 e DIARIO da TARDE, 04 jan. 1919). O irmão Abraão Glasser Filho (1879-1949), formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (DIARIO da TARDE, ed. 1184, 1903), tornou-se um consagrado médico na cidade de Ponta Grossa onde ajudou a fundar o hospital da Santa Casa de Misericórdia. Dr. Abraão Glasser (filho) foi proprietário e um dos fundadores do jornal “DIARIO do PARANÁ” (PILOTTO et al, 1976, p. 39), diretor do jornal “VANGUARDA” (DIETZEL, 2004, p. 69-71 e SPIEG, 2008, p. 245) e prefeito da cidade de Ponta Grossa, 1916-1920 (LAROCCA, 2002, p. 72 e SOUZA, 2010, p.77). Seus outros dois irmãos foram Ismênia Glasser Cunha (1884-1937) e Leandro Glasser (1885-1940).

 

Após concluir os estudos em Curitiba no Colégio Arthur Loyola (DEZENOVE de DEZEMBRO, ed. 185, 1889), Roberto Glasser trilhou o mesmo caminho profissional a exemplo do pai. Dedicou-se ao comércio, a indústria e a pecuária tornando-se, em pouco tempo, um dos mais bem destacados e sucedidos empresários paranaense no setor agropecuário.

Documento assinado por Roberto Glasser – 1907. (charqueada locais onde o boi era abatido e se procedia ao preparo do charque).

Documento assinado por Roberto Glasser – 1907.
(charqueada locais onde o boi era abatido e se procedia ao preparo do charque).

Foi proprietário da fazenda CANCELA (na região de Palmeira), propriedade com 7.500 hectares (75 km²) vendida aos Menonitas (alemães-russos) da Colônia Witmarsum, em 1951, ao custo de R$ 2.971.780,00 (dois milhões, novecentos e setenta e um mil, setecentos e oitenta cruzeiros).6 Na pecuária foi um dos maiores criadores de rebanhos de bois, mulas, cavalos e ovelhas da região (produzia charque, carne seca, cola, cera, banha, manteiga, artefatos de couro e couro animal para fins de exportação). Seu rebanho atingiu a marca de 10 mil cabeças de gado. Na indústria, foi sócio fundador da conceituada indústria fabril WALTER & CIA localizada na capital paranaense que se especializou no comércio de artigos de couro e seus derivados (COMMERCIO do PARANÁ, 26 abr. 1916).

Escritura Pública de Compromisso de Compra e Venda – 3º Tabelionato de Notas – 3º Ofício de Notas de Curitiba.

Roberto Glasser foi fundador e redator do impresso ‘OITO de DEZEMBRO’ quando tinha apenas 21 anos (PILOTTO et al, 1976, p. 32 e DIARIO DA TARDE, ed. 399, 1900). A revista, subvencionada pela Associação Curitybana dos Empregados no Commercio publicava, mensalmente, matérias com tendências liberais (cobrava do poder público condutas coerentes que viabilizassem o progresso das cidades e a modernização da vida). Defendia o desenvolvimento moral e intelectual da classe operária curitibana (DIARIO DA TARDE, ed. 18, 10 abr. 1899 e O SAPO, ed. 15, 15 abr. 1900).

Jornal Oito de Dezembro impresso publicado no final do século XIX começo do século XX.
Jornal Oito de Dezembro impresso publicado no final do século XIX começo do século XX.

Roberto Glasser foi procurador da Associação Curitybana dos Empregados no Commercio em 1895.  Foi eleito presidente entre 1896 e 1897 (GAZETA DO POVO, 30 out 1942). Foi eleito primeiro secretário entre 1898 e 1900 (A REPUBLICA, ed. 123, 08 jun. 1898 e ed. 125, 07 jun. 1899) e, novamente, entre 1911 e 1913 (A REPUBLICA, ed. 183, 05 ago. 1911 e O OLHO da RUA, ed. 7, 1911). Se tornou um dos patronos da construção do edifício sede da instituição que deu origem, na sequência, ao Sindicato dos Empregados do Comércio do Paraná, em 1942, quando atuou na função de secretário geral (A REPUBLICA, ed. 123 e ed. 238, 1898).

Figura 5

A residência de Yvette e Roberto Glasser localizada na avenida Dr. Vicente Machado Nr. 264 (centro) – construída em 1941 / demolida em 2015.

A residência do Senador Roberto Glasser localizava-se na avenida Dr. Vicente Machado Nr. 264, no centro de Curitiba. A residência, construída em estilo europeu em 1941, resistiu ao progresso da grande metrópole curitibana até 2015 quando foi demolida e, no local, construiu-se um empreendimento comercial. A residência foi, durante 74 anos, um ícone de referência para as gerações mais antigas que circulavam pelo centro da cidade. Um triângulo inscrito na fachada principal indicava as convicções do Senador Roberto Glasser nos dogmas da doutrina maçônica da qual foi membro atuante.

 

Roberto Glasser foi casado com Yvette Robine Glasser (1904-1986), filha de Joseph Robine (1873-sd) e Domitilla Montezano (1876-1943). O casal contraiu núpcias no dia 17 de dezembro de 1926 na cidade de Curitiba (O ESTADO do PARANÁ, 17 dez. 1926). Yvette e Roberto Glasser não deixaram herdeiros. Yvette Glasser foi a segunda esposa do Senador. A primeira esposa, Etelvina de Almeida, falecida no dia 16 de outubro de 1925, também não deixou herdeiros (GAZETA DO POVO, 23 out. 1925).

2 SURNAME. Disponível em: <http://www.surnamedb.com/Surname/Glasser>. Acesso em: 12 de janeiro de 2018 e, também, em COAT of ARMS & FAMILY CRESTS STORE – Disponível em: <http://www.4crests.com/glaser-coat-of-arms.html>. Acesso em: 12 de janeiro de 2018.

 

3 PRUDENTE de MORAES. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Prudente_de_Moraes>. Acesso em: 25 de janeiro de 2018 e, também em, ISIDORO DIAS LOPES Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/biografias/isidoro_dias_lopes>. Acesso em: 25 de janeiro de 2018.

 

4 A partir de 1802, os coronéis, tenentes-coronéis e sargentos-mores que serviram ou combateram em milícias poderiam ser escolhidos dentre os oficiais de 1ª linha que houvessem prestado serviço com distinção (RIBEIRO, 2001, p. 37) e, portanto, por este entedimento Roberto Glasser foi nomeado oficial da Guarda Nacional por ter participado da Revolução Federalista. A Guarda Nacional foi uma alternatival liberal da sociedade civil, criada com o objetivo auxiliar o Exército nos problemas de manutenção da ordem e adversidades do período. Os membros da Guarda Nacional eram indivíduos recrutados que não exerciam profissionalmente a atividade militar, mas, depois de qualificados como guardas nacionais, passavam a fazer parte do serviço ordinário ou da reserva da instituição (RIBEIRO, 2001, p. 42).

 

5 GUARDA NACIONAL. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Guarda_Nacional_(Brasil)>. Acesso em: 23 de janeiro de 2018.

 

6  Certidão Pública – Escritura Pública de Compromisso de Compra e Venda – 3º Tabelionato de Notas – 3º Ofício de Notas de Curitiba – Livro 51, folha 303, 07 de junho de 1951.